O que é
O Juro Real Monetário é calculado como a diferença entre a Selic e a variação anual da M2 (Δ12m%).
A M2 é um agregado monetário que inclui: papel-moeda em poder do público, depósitos à vista, depósitos de poupança e títulos privados emitidos por instituições financeiras. Em suma, representa a moeda usada em transações e aplicações de liquidez imediata.
Pela ótica austríaca, expansão da base monetária = inflação. Assim, quando o juro real fica negativo, significa que a moeda está tendo seu valor destruído, independentemente do nível da Selic, pois a criação de moeda supera a remuneração nominal dos juros.
Interpretação
- Juros reais negativos: indicam que a Selic não compensa a inflação monetária. Gera boom artificial (crédito barato, distorção de preços relativos) e uma alteração da preferência temporal: o dinheiro no tempo passa a valer menos, incentivando consumo imediato e projetos longos que só sobrevivem com liquidez crescente.
- Juros reais positivos: a Selic supera a inflação monetária. É fase de ajuste (bust): poupar volta a ser recompensado, o crédito encarece e projetos não rentáveis são liquidados.
Análise
Evolução 2020 → 2025 (Selic – ΔM2 12m%)
- 2020: juros reais fortemente negativos, chegando a -29% a.a. (out/20). A Selic ficou muito abaixo da expansão da M2 — o juro não compensava a inflação monetária, alimentando boom artificial.
- 2021: melhora parcial; apenas no fim do ano (dez/21) ficam levemente positivos (~+1% a.a.).
- 2022: mesmo com Selic alta, a inflação monetária ainda supera os juros; retorno ao território negativo (-2% a -5%).
- 2023–2024: permanecem negativos, entre -6% e -2%; por quatro anos, a taxa básica não neutralizou a expansão da M2.
- 2025: virada: positivos em jan/25 (+1,1%) e chegam a +4,5% em jun/25.
Leitura
Entre 2020 e 2024, prevaleceram juros reais negativos — evidência de que a Selic não compensava a inflação monetária. Isso sustentou crédito fácil, consumo antecipado e realocações improdutivas, corroendo a poupança real.
Em 2025: a Selic manteve-se em patamar muito elevado (13,15% em jan/fev) e subiu para 14,9% em jun/25. A M2, por sua vez, continuou em expansão significativa (+6% no semestre, ~12,5% anualizado). Ainda assim, a taxa básica superou esse ritmo, levando os juros reais para o campo positivo: de +1,1% em jan para +4,5% em jun/25. Ou seja, os juros reais ficaram positivos não porque a moeda deixou de ser inflacionada, mas porque a Selic foi empurrada a níveis excepcionalmente altos