O que é
O Resultado Primário mede a diferença entre as receitas e despesas do setor público, desconsiderando os pagamentos de juros da dívida. Já o Resultado Nominal inclui esses juros, refletindo a variação efetiva do endividamento do governo em relação ao PIB.
Ambos são expressos como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), servindo como principais indicadores da postura fiscal do país e de sua capacidade de estabilizar a dívida pública.
Interpretação
Resultado Primário positivo indica superávit — o governo arrecada mais do que gasta (sem juros), ajudando a conter o endividamento. Resultado Primário negativo reflete déficit — gasto público superior à arrecadação, pressionando a dívida.
Já o Resultado Nominal revela o impacto total dos juros: mesmo com superávit primário, juros altos podem manter o nominal no vermelho.
Na ótica austríaca, déficits recorrentes e financiamento via dívida representam uma expansão artificial do crédito estatal, que distorce o cálculo econômico, reduz a poupança real e posterga ajustes estruturais. O equilíbrio fiscal sustentável é visto como pré-condição para estabilidade monetária e alocação eficiente de capital.
Análise
Evolução recente (2020–2025)
- 2020: forte deterioração com a pandemia — déficit primário recorde de -9,2% do PIB e nominal de -13,3%.
- 2021–2022: recuperação expressiva; o primário volta ao superávit (~+2,4% em jul/22) e o nominal melhora, refletindo inflação elevada e receitas extraordinárias.
- 2023–2024: reversão; déficit primário retomado (-2% a -2,5%) e nominal novamente próximo de -9%, mesmo com alta arrecadação.
- 2025: leve ajuste — primário quase equilibrado (-0,2% em ago/25), mas o nominal ainda elevado (-7,8% do PIB), mostrando que os juros seguem pesando sobre as contas.
Leitura estrutural 🧭
A trajetória fiscal recente combina gasto corrente elevado e carga tributária crescente, sem avanço proporcional na eficiência do Estado. A ausência de superávits consistentes impede estabilizar a dívida, enquanto juros altos amplificam o custo do desequilíbrio.
Sob a ótica austríaca, trata-se de um ciclo de endividamento crônico: déficits primários recorrentes e política monetária reativa estimulam a expansão de passivos estatais, distorcendo preços relativos e reduzindo a base de capital real da economia.
Conclusão
Apesar da leve melhora em 2025, o Brasil permanece com um resultado nominal persistentemente negativo. Isso evidencia que a consolidação fiscal depende não apenas de corte de gastos e aumento de receitas, mas também da redução estrutural dos juros e da credibilidade fiscal. Sem essas âncoras, o país permanece vulnerável ao efeito bola de neve da dívida.